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domingo, 3 de dezembro de 2017

(Boatos) Acerca da Capela abandonada...



Com as ventas pra fora, suando frio e entre gagueiras
um homem apavorado se esforça em meio a uma pequena multidão
de amigos, conhecidos e desconfiados dizendo;

—Eu juro pela minha fé! Que é verdade sim!
Anteontem passando próximo a capela abandonada,
por volta das seis da tarde (eu ouvi uma voz estranha)
me chamar pelo nome; —Adalbertooooo.....

—Ô mentira cabeluda! —Deixa de conversa homem!

É preciso jurar por algo mais forte,
para cair nas graças do povo.

—Pela sua fé não vale jurar Adalberto,
— jura pela alma de sua mãe? ‒quê acreditaremos em você...?

"Mãe é bem único que ninguém deseja perder."
Mas Adalberto tinha lá seus histórico de exagerado entre os seus conhecidos,
mas era um homem temente e que nunca brincava com o nome de Deus
e nem com o nome de sua Mãe, dizia ele —Mãe e Deus são nomes sagrados.

—Juro pela alma de minha mãe que é verdade!

O assunto era mesmo sério, alguma coisa mesmo ele tinha ouvido e visto,
dentro da capela abandonada. E agora todos estavam curiosos para saber o que era.

—Quando eu entrei dentro da capela, já havia começado a escurecer
e não consegui enxergar quem falava comigo –mas continuava ouvindo aquela voz,
–diferente de todas as vozes e sons que eu já tinha ouvido antes.
—A medida em que ia ouvindo-a –também ia enxergando com a imaginação
o que ela me dizia. —Prestem atenção para o que eu ouvi;

ADALBERTO DOMINGO QUE VÊM PELA MANHÃ CELEBRAREMOS
AQUI A ÚLTIMA MISSA NESSA CAPELA. 
ELA ESTARÁ TODA ENFEITADA DE FLORES PESSOAS E ANJOS
AVISE A TODOS APÓS A MISSA DEUS IRÁ SE DESPEDIR DELA
E AO SAIR ELE SE ESPALHARÁ POR DIVERSAS DIREÇÕES
SERIA BOM PARA TODOS QUE TÊM ALGUM PEDIDO A FAZER A ELE
QUE VENHA ASSISTIR O ENCERRAMENTO DESSA PEQUENA IGREJA.

A sim mesmo com todas essas palavras, o boato se espalhou rapidamente entre os moradores da pequena cidade,
chegando aos ouvidos do pároco daquele região, que reforçou a descrença de todos
com supostos e eloquentes convites;

—Vamos todos nos reunir aqui na frente da igreja matriz pela manhã de domingo bem cedo!
–não que eu creia em devaneios, mas Adalberto é nosso irmão em Deus, e vai precisar muito
de nosso apoio –Quando cair em si precisaremos estar próximos para resgata-lo
em juízo e razão, para que não enlouqueça!


Todos aguardavam ansiosamente para que chegasse logo esse dia,
por ali quase nunca acontecia nada de novo ou diferente, e aquele seria um dia
de distração entre a comunidade católica do povoado, eles quase nunca faziam
nada em grupo e essa seria uma boa chance de reaverem seus conhecidos,
conversarem e passarem algum tempo juntos.

Era noite de sexta-feira  e o boato foi tão forte, que alguns até mesmo sonharam
com a missa de domingo na capela abandonada. E no sábado ao dividirem entre si
estes sonhos, muitos nem mais queriam saber da veracidade do testemunho de Adalberto
só queriam estar lá na capela abandonada, que todos haviam se esquecido,
mas a maioria deles casaram ali em seu altar. Fizeram votos, alcançaram milagres,
batizaram seus filhos e isso causou uma comoção afetuosa entre todos.

Chegou o dia, assim que o sol despontou pela manhã a frente da igreja matriz estava
repleta de fiéis e cada um trazia uma dádiva para se despedirem da antiga capela.
Arranjos de flores, Cartas de gratidão escritas por muitos deles aonde agradeciam a Deus
tudo que já viveram e receberam dele ali.
Entre eles iam também alguns doentes "e alguns que se julgavam doentes"
por mazelas e infortúnios em suas vidas,  pra ser específico entre estes
dois me chamaram mais a atenção;

Raul o relojoeiro (com apenas 45 anos) havia contraído um sério problema neurológico
e se queixava muito dos fortes tremores que tinha na mão, devido a eles
não estava mais conseguindo consertar relógios.
E se queixava de ter se demorado para constituir uma família e agora diante
desse problema seria impossível sustentar uma família, estava indo convicto
que se Deus o curasse se casar seria a prioridade em sua vida.

E Etelvina a derradeira (apelido maldoso, por ser a única entre suas irmãs que não se casara)
ela sofria muito de complexo de inferioridade desde a sua adolescência,
o que a transformou em uma moça sem muito atrativos, pouco sorria, cabelo sempre preso,
olhava sempre as pessoas por baixo e ao ser encarada escondia o rosto.
Ela estava ali, e me parecia um pouco alegre... Me arrisquei a tentar adivinhar o que ela
iria pedir para Deus ali na capela abandonada.
(Certamente alguém que a ame assim como ela é)

O cortejo segue radiante murmurando corinhos e hinos de adoração,
em uma só voz. Adalberto vai na frente junto com os padres e diáconos
que o confortavam dizendo;

 —Filho não que duvidamos de ti –Mas só o fato de estarmos unidos em uma procissão,
inspirada por ti em direção a antiga capela. —Já o concede um certo grau de aprovação Divina.

⸻Deus te abençoe meu filho! Disse o padre a Adalberto muito emocionado,
há muito tempo não via sua congregação tão fervorosa e sensível como estava naquela manhã.

O mato estava tomando conta do piso cheio de fissuras, e suas portas e janelas estavam
dependuradas aos umbrais de madeira, como a um naufrago segurando-se quase sem vida
a raiz de uma encosta rochosa.

Ela estava completamente vazia, com exceção a algumas aves que fizeram seus ninhos
por entres as vigas que sustentavam o seu telhado. A única luz que havia ali dentro
era a do sol da manhã que atravessa pelas gretas das paredes de tabuas deterioradas pelo tempo.

Adalberto se entristece, e começa a se sentir envergonhado "Estarei mesmo ficando louco?
Pensava ressabiado tentando se esconder atrás do pároco.

Quando de repente uma voz grita —Sumiu o caroço! Todos olham para ver e entender,
o que estava acontecendo, um dos doentes tinha um tumor do lado esquerdo do rosto,
e estava radiante de alegria pedindo para que todos passassem a mão em seu rosto.

—Desapareceu mesmo! ALELUIA!!!! O coro de gratidão contagia a todos,
e o padre então caiu a ficha naquele instante; —DEUS ESTÁ AQUI IRMÃOS!!!
—REZEM —ADOREM — AGRADEÇAM-NO!!!!

O Sol se adiantou em direção ao meio dia e as luzes de seus raios, caíram sobre todos
como as águas de uma cachoeira que se misturou a lágrimas dos fiéis que estavam ali.

Etelvina a derradeira, sem que notasse estava de cabelos soltos e seu rosto banhado de lágrimas
brilhava se misturando ao seus risos de gratidão. Raul relojoeiro estava próximo a ela,
quando ela tropicou em uma tábua solta de um dos antigos bancos da capela,
e ela caiu diretamente sobre os seus braços, e se olharam fixamente por alguns minutos
e, ele a disse; —Me desculpe nunca há havia observado antes —agora vendo-a de perto,
vi o quão cego e tolo eu era. —Você é linda Etelvina. Dizendo isso levou suas mãos aos olhos dela
para enxugar suas lágrimas e foi naquela hora que Raul percebeu seus tremores,
haviam desaparecidos e bem na sua frente em seus braços estava o amor pelo qual
ele iria lutar daquele dia em diante.

Todos estavam muito felizes, e já se acalmavam e se abraçavam prometendo
uns aos outros que iriam se unir para restaurar aquela antiga capela.

—Vamos sim! —Restauraremos a capela e mais nunca a abandonaremos!

Dizia o padre olhando do lado de fora cercado pelos fiéis a antiga capela,

—Não será possível! Exclama Adalberto relembrando a todos o que ele havia ouvido,
na visão poucos dias atrás;
...AVISE A TODOS APÓS A MISSA DEUS IRÁ SE DESPEDIR DELA
E AO SAIR ELE SE ESPALHARÁ POR DIVERSAS DIREÇÕES,

Mas eles pareciam ainda não acreditarem em Adalberto,
Quando de repente veio um vento muito forte que aos olhos de todos,
começou a derrubar as antigas árvores que a protegeram por todos aqueles anos
de esquecimento. Agora estavam caindo sobre ela, como se ambas já estivessem muito cansadas
e que os seus tempos de existirem ali estivesse se encerrado.

Medo, espanto, respeito e temor calaram todos,
que sentiram cada um dentro de si mesmos a presença de
Deus que o esperavam na antiga capela.

Daquele dia em diante ele (Deus) não estaria mais ali,
na antiga capela, porque retornará para a vida de seus fiéis,
lugar este de onde nunca deveriam terem se esquecido dele.


L.L.S
E agora? Aonde está o teu Deus?

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